quarta-feira, 7 de março de 2007

"Causos" - Por diversos autores

O antigo "antro causuístico" de Inconfidentes




Foto: Para dar o tempero dos "causos" contados nesse reduto "causuístico" será preciso restabelecer "parâmetros" próprios da época (Inconfidentes -MG)









Breve apresentação

Assim é bom lembrar: muito diferente dos berreiros ouvidos nos tais "botecos de gente fina" frequentados por auto-proclamados correliginários das virtudes celestiais e satisfeitos em conjectuar condenações para o pecado alheio - triste situação - naquele tempo, anos dourados da "Colonha", o padrão era o libertário "Bar do Irineu". Ali, ao contrário, reuniam-se os mais autênticos e poéticos pecadores da humanidade - melhor assumidos - representantes da espécie depois abominada pela prática purificadora iradiada pelos alto-falantes na torre da igreja.

Alí, no Bar do Irineu, muito ao contrário do moralismo da tal "gente fina", vida alheia era "assunto particular" e, ninguém se metia. Vez por outra, à bandeiras despregadas explodia alguma gargalhada coletiva, sonora - ouvida pela rua, acompanhada de algum comentário mais audível - tipo: "Trem doooiiidddooooooo" !!!!.... Ou então: "O buuurrrrrrrooooo..... Sô" !!! Ou mais tarde, por vezes em ordens alternadas: "Truuuuucooooo", uai !!!!

Claro, quem passasse pela porta logo via: ali reinava a alegria do pecador livre das culpas. Poesia e imaginação... se soltavam logo. Aos primeiros goles. E tudo alí era rústico e essencialmente prático. Pela utilidade, bastavam o balcão, prateleiras e bancos de madeira junto às paredes.

O resto, era o piso liso, cimentado, enquanto pelo forro penduravam-se linguiça e outros seres estranhos destinados aos "petiscos". Quanto ao "mobiliário", além da torneira, pia e fogão, ainda não haviam chegado essas "modernidades" como mesas de plástico, fórmica, ventiladores, espelhos e niquelados. Isso era coisa para Pouso Alegre ou Ouro Fino.


No Bar do Irineu, também haviam algumas pequenas "utilidades" a venda entre velas, fósforos, sabão e pasta de dente. Entretanto, o que importava era a prateleira da parede aos fundos, onde por anos e anos empoeiravam-se garrafas de vinho escurecidas. Pareciam esquecidas no tempo. Outras porém, mais abaixo, sempre limpas pelo constante "manuseio" tais como vermute, cachaça e grozelha, mais pareciam remédios dispostos em "farmácia".

Os bancos eram toscos, de táboas encostadas pela parede ao lado e perto da porta; e para completar o ambiente virtual e onírico nesse recanto da humanidade, o balcão era madeira lisa, escurecida - pois estava sempre úmida pelos "acidentes" naturais, enxugada e alisada pelo pano do Seu Irineu constantemente esfregado no tempo. Curiosamente, por baixo, num pequeno espaço frontal desse balcão (onde a freguezia encostava o joelho com o devido cuidado), uma pequena "vitrine" de vidro mostrava docinhos melequentos, amarelados e, outros em canudinhos. Os docinhos e salgados, o Irineu marcava. Pinga não.

Aliás, sobre os docinhos, como coisa da época sempre notadas pela freguezia interessada, tudo era trazido por um furgãozinho verde. Era o "carro" (Ford 1938) dessa fábrica "A Confiança" quem passava todo mês a buzinar pela avenida prinicpal para depois dobrar esquina e subir a ladeira - frente ao boteco, rumo a Bueno Brandão. De certo deixavam ali aqueles docinhos pra algum freguês comer sem se importar com o mosqueiro frequentador do boteco - pois ninguém espantava direito.





"Causos" em destaque - Breve resenha


1 - Leia: a história do Tão Malinha e do Zé Pardinho e as idiossincrasias desses dois irmãos (clicar aqui para ver). Esse "causo" é contado por Fernando Bartholo . Chama-se a atenção para as expressões da linguagem (forma autêntica) então falada na "Colônia" (Inconfidentes e arredores) em meados do século passado e, as fantasias anticomunistas (pós 64) do repressivo Tião Malinha e os impulsos libertários do Zé Pardinho.


2 -Leia: a história da chegada do "Cachorro Quente" a Inconfidentes em "Essas coisas do Rio de Janeiro" (clique aqui para ver) a descrição da chegada do "Hot Dog" à "Colonha" daquela época. A linguagem, continua a mesma do "causo" anterior. E os personagens continuam fictícios. Fernando Bartholo estava mesmo inspirado ao escrever esse "causo".



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